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ESTRELINHA, O DEMÔNIO LAGARTO



Já era fim de tarde quando aquelas lavadeiras à beira do rio Carangola paravam com a cantoria, e já se preparavam para retornarem para as suas palhoças. E com suas bacias cheias de roupa, além das próprias roupas que vestiam estarem todas ensopadas, elas se despedem de Galega, a única que prefere ficar por ali, devido ao acúmulo de roupas que a mesma havia juntado. As amigas se espantam e também a advertem que já estava escurecendo, e que não só algum bicho do mato, mas também por ser Quaresma, como a crendice daquele lugarejo acreditava, alguma assombração ou algo parecido, poderia surgir e atacá-la. Mas trabalhadeira e rústica como era, Galega que nem católica mais era, esta debochava da crendice das amigas e demonstrando total desdém, desfaz de sua antiga religião e exalta o pastor de sua igrejinha que em muitas de suas pregações, também condenava os folclores e as crendices populares locais. As amigas vendo a convicção de Galega, não vêem outro jeito a não ser deixá-la ali sozinha com suas roupas à beira daquele rio amarelo que devido a escuridão que já tomava aquela mata, se enegrecia e já se permitia refletir a imensa lua cheia que já despontava naquele céu sertanejo. 'A saia da Carolina tem um 'largato' pintado/ A saia da Carolina tem um 'largato' pintado...sim Carolina ô-i-ô-ai/sim Carolina ô-ai meu bem...Debruçada com suas ancas avantajadas, aquela jovem tabaroa cantava sozinha essa música que lhe fora ensinada por sua avó descendente direta de
portugueses.
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O HÓSPEDE MALDITO



O Hóspede do Mal O caminho para a mansão dos Holms era basicamente uma estrada de chão cheia de buracos, mas o Troller amarelo 4x4 não encontrava obstáculos que o impedisse de continuar em sua corrida até o local que Denny Holms e sua família pretendiam chegar. A família composta pela mulher que dirigia o veículo, seu marido chamado Richard e seus dois filhos Toby e Clarice, estava de férias, receberam a notícia de que um parente chamado Gerald Holms, tio de Denny, havia falecido e deixado de herança para a mulher e sua família uma mansão que ficava isolada entre a pequena cidade de Hillstown e o vilarejo Stillbourn, no pequeno novo estado, onde antes era um país chamado de México. Um pouco antes da nação ser dominada pelos Estados Unidos da América, o avô de Gerald Holms já havia adquirido a fazenda e levantado a magnífica mansão, que foi passada de pai para filho, porém o atual dono, falecido, não possuía outros parentes, e o mais próximo era a Denise Holms. Enquanto o veículo desbravava a precária estrada de chão, no banco de trás as duas crianças discutiam sobre as férias. - Pois eu não acho que passar minhas férias em uma fazenda sem amigos e talvez nem celular seja algo agradável! – Exclamou Clarice, que tinha dezesseis anos, era loira, seus cabelos cacheados caíam até quase sua cintura. Sua pele era branca, mas não pálida, apenas lembrava uma típica garota com traços irlandeses. - Pois eu vou adorar esta aventura! Sempre quis ficar numa fazenda! Ainda mais se tiver cavalos! – Retrucou Toby, que tinha apenas onze anos, mas seu espírito de aventura era uma característica notável. Principalmente considerando que os jovens naquela época (ano 2042, 958 anos antes da Grande Guerra) queriam apenas saber de games de realidade aumentada e hologramas de atrizes pornôs. Toby era Diferente, ele gostava de sair e conhecer lugares, não tinha maldade em seu coração, mesmo sob influência de seus colegas que a própria Denny classificava como "demônios". O garoto era loiro, mas não era tão pálido quanto a irmã, talvez por sair mais a céu aberto. Não possuía sardas, puxou mais ao seu pai que era oriundo da Inglaterra. Os cabelos de Toby eram curtos, com um topete na na testa em forma de onda, assim como sua irmã, seus olhos eram azuis. - Calem-se! – Gritou Richard, continuando com um tom mais suave – Clarice, nós vamos passar o verão na mansão, isso é indiscutível. – Olhou para a filha apenas para se certificar que ela havia prestado atenção em seu tom de voz, em seguida voltou-se para Toby e falou – E para você, campeão, nada de cavalos. Lembra que na sua última aventura em cima de um cavalo você caiu e quebrou o braço? Aqui é longe de tudo, não tem médicos, então nada de riscos. - Richard era um homenzarrão, possuía 1,92m de altura, loiro, mas de cabelo curto, fazia um topete igual ao do Toby, seus olhos azuis cintilavam como estrelas. Seus braços eram musculosos, mas a camisa xadrez de manga longa escondia estes dotes. Sua barba era rala, rente com o cabelo. - Ah, ótimo, não tem médico. – Bufou Clarice, continuando – Tomara que eu pegue dengue ou malária. Assim morro logo e não me preocupo mais. - Chega de drama filha! – Argumentou Denise soltando uma risada, em seguida se conteve e continuou – Aqui não tem nada dessas doenças. – Denise era ruiva, e possuía sardas em suas bochechas. Ela tinha descendência Irlandesa, seus olhos eram de um azul que as vezes podia ser confundido com um verde claro. Seus cabelos estavam quase sempre soltos, não chegava a ser cacheados, mas era um pouco rebeldes. Denny tinha apenas 1,70m de altura, e era magra, mas não exageradamente, e sim de modo saudável onde por onde passava os homens ficavam de olho em seus seios e principalmente seu traseiro. Poucos momentos depois, avistaram um muro de pedra que deveria medir pelo menos quatro metros, e um portão duplo de ferro que estava aberto, um homem no estilo cowboy os aguardavam escorado no lado direito da grade do portão, como quem convidava "bem vindos, forasteiros." Pararam o Troller amarelo ao lado do homem, Richard que estava no carona abaixou seu vidro, e o homem se apresentou: - Bem vindos a gloriosa mansão Holms. – O cowboy possuía um sotaque bem caipira, o "gloriosa" pareceu mais um "gloureósa", Tobias e Clarice se olharam no banco de trás e começaram a rir. Mas o homem continuou – Meu nome é Raynold. Prazer. – Mais uma vez, o "prazer" soou com sotaque parecendo um "pruazer". - Olá Raynold. Me chamo Richard, esta aqui do meu lado é a Denise, e esses tagarelas aqui atrás são Toby e Clarice, nossos filhos. O prazer é nosso. – Terminou o homem no carona. - Creio que são os novos donos dessas terra tudo, num é? – Indagou o cowboy, mas sem esperar resposta, já foi continuando – Demoraram um bucado, sô! Eu sou o cuidador contratado pelo falecido a muitos anos. Vou levar ôceis até à mansão, a mode que eu possa apresentar pra oceis toda a terra mais tarde. Oceis vão amá essi lugar! – Terminou com um sorriso que chegou a gelar a alma de do homem sentado no carona do Troller amarelo. Richard assentiu, então Raynold subiu em uma moto laranja que estava escondida atrás da muralha, a ligou, e fez sinal para que o seguissem. O Troller seguiu logo atrás. Continuaram por uma estrada de chão até que começou a o asfalto. Já conseguiam enxergar a mansão, realmente era uma construção enorme, digna de um Rei, porém o material chamou a atenção dos Holms, esperavam encontrar uma casa de madeira, mas era de alvenaria. Denny achou incrível que tivessem trazido tanto material para aquele lugar a fim de construir aquela mansão. Deve ter levado alguns bons anos para construir na época. - Esperava algo mais assustado. – Disse secamente a garota no banco de trás do veículo. - Viu? Podia ser pior. Então trate de melhorar este humor, mocinha. – Falou o pai. Passaram por um corredor onde haviam vários pinheiros enormes na borda da estrada, "é uma bela entrada, com certeza" pensou Denise. Quando finalmente pararam a frente da mansão, toda a família desceu do veículo, contemplando aquela construção enorme e linda. - Bom, garanto que se vendermos essa belezura nunca mais nossa família vai precisar trabalhar. – Disse Richard com um sorriso estampando seu rosto. - Amor, já falamos sobre isso. Não vamos vender. Não agora. – Disse a mulher, olhando fixamente nos olhos do marido. - Certo, a herança é sua, você decide. – Respondeu o homem, sem se esforçar para esconder sua tristeza e reprovação. Raynold desceu da motocicleta. Ficou ao lado de Richard e falou: - Intão, vamos entrando! – Disse o cowboy dando tapinhas no ombro de Richard. Quando começaram a subir as escadas que davam ao hall da porta de entrada, o homem falou de novo – Pois não si assustem com o véio Harold. Ele é o mourdomu que cuida di dentro da mansão. Ele queimou o rosto num incêndio qui tivemo uns trinta anos atrás, deformou um pouco sua cara, mas ele é bem simpático, oh si é! – Terminou parando do lado da porta dupla de madeira. Segurou um arco de metal que havia em uma das portas e bateu bem forte. A família Holms pode notar que o barulho ecoou lá dentro da mansão muito mais do que lá fora, e alguns poucos segundos depois, a porta se abriu, e de dentro saiu o velho de quem o cowboy estava falando. - Bem-vindos, família Holms! – Disse com um sorriso, continuando – É um prazer receber os herdeiros do Lord Gerald. – Quando as crianças viram o rosto deformado do homem, fizeram uma careta, Toby deu um suspiro e dois passos para trás, e apesar do mordomo ter notado, pareceu não se importar. O velho possuía uma face parecida com a de um personagem de filme de terror bem antigo, Toby gostava de assistir os clássicos e lembrou na hora: Freddy Krueger! Mas ele possuía cabelos, era branco e liso, caía para trás de sua cabeça, provavelmente o fogo deformara apenas a parte frontal de sua cabeça. - Olá, senhor Harold. – Disse Denise, o mordomo inclinou seu corpo para frente com o braço direito cruzando logo abaixo do tórax, em sinal de respeito e cumprimento. - Entrem, por favor! Vou apresentar à vocês a sua nova propriedade! Deixem que Raynold cuide de levar as malas para seus quartos! – Pediu gentilmente o velho. Todos entraram, mas antes, Denise entregou a chave do Troller para o cowboy pegar as malas e levar para dentro da residência. Ele avisou que iria levar o carro para a garagem, e que depois levaria a família conhecer os cômodos fora da mansão. Ao passar pela grande porta dupla de madeira, Toby sentiu um calafrio muito parecido com o que ele sentira quando chegou a mensagem de que Gerald havia falecido para a Denise. Richard estava no mercado, Clarice no shopping com suas amigas assistindo mais um "remake" do filme IT – A coisa, e Toby estava na sala com sua mãe, jogando xadrez, seu jogo favorito. Tocaram a campainha e os dois foram atender, quando um homem de terno preto, muito pálido, que parecia ser careca, mas usava um chapéu preto de abas retas e redondas na cabeça, se apresentou como advogado do Lord Gerald, e precisava comunicar Denise sobre a morte de seu tio, tal como a transferência da mansão do falecido para a mulher. Toby havia se assustado com aquele homem que mais parecia um cadáver de terno ambulante, e foi naquele momento em que o homem pálido o tocou a cabeça dizendo "ora, vejo que você possui um filho bem puro!" Toby sentiu um calafrio que mais parecia sua alma congelando dentro de seu corpo. Mas como aquele dia, agora Toby ignorou também o calafrio, e seguiu em frente, pois uma parte de sua mente estava muito excitada por estar conhecendo um lugar como aquele. A mansão parecia uma daquelas de filmes de terror, logo no saguão de entrada, havia uma escadaria bem larga, com um tapete vermelho, ela era de madeira, mas muito bem trabalhada e cuidada, era revestida com algo que parecia ser verniz. Ela subia pelo menos cinco metros, então se dividia em duas escadas, uma para o lado direito, e outra para o lado esquerdo. - Esta escadaria, meu lorde, e minha dama, levam para os quartos e escritórios, há uma biblioteca também. – Disse o mordomo, em seguida apontou para outra porta dupla que ficava no canto esquerdo do hall de entrada, entre dois pilares muito bonitos e continuou – Mas vamos começar com a parte de baixo. Ali, através daquela porta vamos chegar à sala de jantar principal! – Terminou exclamando. Se dirigiu até a porta e a abriu, colocando sua mão para dentro do cômodo como quem dizia "entrem, por favor". - Se formos ficar com essa mansão, pelo menos demita esse mordomo, a face dele me da medo. – Sussurrou Richard nos ouvidos da Denise, que ficou furiosa e lhe devolveu um olhar como quem dizia "cala essa boca de merda". Entraram na sala, e se encantaram com o cômodo, ele possuía uma mesa oval que quase cortava todo o lugar. Toby era um garoto muito inteligente, e adorava números, a primeira coisa que fez foi contar o número de cadeiras ao redor da grande mesa, e o número era assustador, trinta e dois lugares. Todos estavam de boca aberta surpresos com os detalhes da sala, haviam pilares com rosas entrelaçando-os, como serpentes subindo em um tronco de árvore, havia também uma grande lareira no outro extremo da sala retangular. E quando olharam para cima, perceberam que havia o segundo andar, sem teto, apenas o corredor, "provavelmente", começou a pensar Richard, " a escada da esquerda dá neste corredor em cima desta sala.", ao terminar o seu pensamento, percebeu que um dos quadros era muito familiar, então perguntou: - Harold, esse quadro... – Pensou um pouco, notou que tanto Denise quanto as crianças também se voltaram para ele, o mordomo fitava-o como quem estava disposto a revelar qualquer coisa, então continuou – É uma réplica daquela obra chamada Monaliza? - Não, mi Lorde. Este é o original. – Revelou Harold, Toby ficou de boca aberta e correu até o quadro, o conhecia pois estudara muito história, e já havia visto o quadro milhares de vezes em livros ou na internet. Ele havia sido roubado durante uma exposição de um consagrado museu dez anos atrás, e nunca mais ninguém havia o visto. - Meu deus, isso não tem valor que alguém possa pagar, é um patrimônio da humanidade! – Exclamou Richard. - Receio, meu senhor, que seja patrimônio de vocês, agora. – Falou Harold com um sorriso no canto da boca deformada. Continuando – A não ser que queiram manchar o nome dos Holms, chamando autoridades para busca-lo de volta. - Não, Harold. Imagine. Vamos deixa-lo aí onde está. – Disse Denise, fascinada pela obra, e emendou – Noto sua preocupação com o nome da família, e não seremos nós que vamos suja-lo. - Não mesmo, isso eu tenho certeza, minha dama. – Respondeu o mordomo com um tom que parecia estar zombando dos recém-chegados, mas todos ignoraram-no. Continuaram até o final da sala, onde havia uma porta de madeira com entalhos muito bem esculpidos na própria porta. Então o mordomo anunciou: - Agora, chegaremos ao corredor onde vai para a cozinha e também aos banheiros da sala de jantar. Abriu a porta, dava em um corredor um pouco estreito. Para o lado direito, ficavam duas portas, um com um chapéu entalhado, e outra com um sapato alto, eram os banheiros masculino e feminino, Clarice saiu na frente e foi para o feminino. - Faz tempo que estou segurando! Vão na frente, encontro vocês depois! – Exclamou a moça adolescente, entrando no banheiro. - Vamos, pelo tamanho dessa mansão, capaz de levar horas até conhecermos tudo! – Disse Richard. - Richard, acalme-se, são recém duas horas da tarde. Aqui anoitece lá pelas oito horas da noite. – Disse Denise. Continuaram, passaram pelo corredor pelo lado esquerdo, notaram que as paredes eram cobertas com um papel de parede, tipo um tecido, com desenhos de rosas, com grossos caules verdes, cheios de espinhos. No final, haviam duas portas, uma no fim do corredor retangular, e outra na parede do lado direto à porta do fim. Harold abriu a da parede, que dava em uma saleta com uma escada, ele informou que aquele era um outro acesso para o andar de cima, e ainda brincou que o Lorde Gerald adorava assaltar a cozinha durante a madruga por este caminho, em seguida à explicação, ele fechou a porta, e abriu a do fim do corredor, que dava para a própria cozinha. Entraram, nela havia duas senhoras, pareciam bem idosas, de relance, Tobias sentiu um outro calafrio, o olho de uma delas parecia ser todo negro, sem pupilas, mas ao fechar e abrir seus olhos, Toby viu que estavam normais, devia ser fruto de sua imaginação. - Estas são Clotilde e Margarida. – Informou o mordomo, ambas fizeram o mesmo gesto de inclinação que Harold havia feito ao conhecer os novos donos da mansão. O velho continuou a falar – Elas são as irmãs cozinheiras da mansão. Mas infelizmente perderam a capacidade de falar... – Deu uma pausa, Denise teve impressão que ele estava tentando pensar em uma história para contar, e não lembrar de um fato, porém ignorou, logo após alguns segundos, o mordomo voltou a falar – ...Em um acidente. Mas não vamos importunar vocês no momento com histórias tristes. Elas entendem nossa língua muito bem, então podem pedir qualquer comida que elas farão. A cozinha era bem grande, quadrada, possuía um forno a lenha intrigantemente grande, caberia um cavalo lá dentro, mas o mais assustador era uma área onde ficava um tanque, e estava com líquido vermelho espalhado em todo o perímetro. - Não se preocupem, ali é a área onde preparam as carnes. Geralmente o Raynold traz algum animal já morto, e as cozinheiras o preparam ali. Esse sangue é de um cordeiro que será preparado no jantar para as boas vindas de vocês. – Disse Harold. - Oba! Adoro carne assada de cordeiro! – Disse a esposa de Richard, tentando animar um pouco a família. - Bem, vamos lá para fora, que o caipira vai mostrar à vocês as redondezas da fazenda! – Pediu o mordomo, em seguida, notando as expressões de preocupação do homem e da mulher, continuou – A filha de vocês está em boas mãos, quando ela chegar aqui, vou pedir para esperar por vocês. As cozinheiras vão preparar um bolo de chocolate, adolescentes adoram chocolate, não é mesmo? – O velho terminou com uma rizada muito sinistra aos ouvidos de Toby que arrepiou mais uma vez. - Não sei... – Denise tentou discordar do mordomo, mas fora interrompida por seu marido. - Vamos lá, Denny. A Clarice sabe se virar, e também, aposto que foi no banheiro só para não ter que ficar conosco! – Quando o homem terminou de falar, todos ouviram um grito na cozinha que parecia bem distante e abafado. - Deve ser algum porco lá do curral! Esse Raynold deve ter incomodado algum pobre animal por lá! – Falou o mordomo, continuando – Então, vamos? Todos saíram atrás de Harold, mas Toby teve a impressão que o grito teria vindo de dentro da mansão, bem no caminho ao qual fizeram anteriormente para chegar até a cozinha, mas relevou pois estava muito animado para ver os cavalos da fazenda. ... Quando Clarice entrou no banheiro, notou que ele parecia muito com os de shopping centers onde ela adorava sair com as amigas, e principalmente com os rapazes que se relacionava. Havia uma pia retangular na parede, com três torneiras, e do outro lado, de frente para a pia, a menina tinha três cabines para escolher, mas a verdade é que ela não precisava escolher, pois entrara no banheiro apenas para fugir daquele tédio da apresentação da mansão. "Se eles se divertem vendo quadros roubados, o azar é deles, tenho coisas melhores para fazer", pensou a adolescente. Em seguida, retirou um papel do bolso, estava muito bem dobrado, a ideia era proteger a erva que Daniel, um amigo que as vezes Clarice dava uns beijos para conseguir drogas, havia entregado para ela antes da viagem para a mansão. "Fume ela apenas quando estiver realmente com muito tédio, pois isso vai fazer você entrar em Nárnia!" havia falado o garoto antes de entregar a droga para a menina. - Foda-se, vou fumar agora e relaxar! – Disse para sí mesma, naquele banheiro da mansão. Com incrível habilidade de quem provavelmente já fez isso várias outras vezes, ela retirou um pedaço de papel de seda, colocou a erva no meio, enrolou, deu uma lambida no final para que o papel ficasse preso, e então ascendeu com um isqueiro que guardava no bolso de dentro de sei colete rosa. A adolescente tragava aquele cigarro como se a sua vida dependesse daquilo, e não demorou mais que um minuto para as substâncias químicas daquele Skank começasse a fazer efeito. O banheiro começou a ficar maior, ela começou a enxergar cores brilhantes, mas o pior ainda estava por vir. - Oi, Clarice! – Disse uma voz que mais parecia um sussurro. A Garota começou a olhar para os lados, mas estava tonta, e não encontrava o dono da voz. "Deve ser minha imaginação" pensou, mas ela já havia fumado o Skank de Daniel, e escutar vozes não era algo que já havia ocorrido. - Achas que sou produto da sua droga, não é? – Voltou a dizer a voz. - Quem é você? Onde está? – Perguntou a menina, abrindo a primeira e a segunda cabina do banheiro, na terceira e última ela se conteve, pois olhou para o chão e por debaixo da porta estava escorrendo sangue. – Ai meu Deus! – Suspirou colocando a mão direita no meio de seu peito. - Eu sou aquele que você teme todas as noites antes de dormir. – Disse a voz, deu uma pausa de cinco segundos, e voltou a falar – Quando você transou com o drogado primo de Richard no verão passado, mesmo que seu pai tivesse a alertado e feito prometer que não daria bola para aquele... homem? Ele tinha quantos anos mesmo, Clarisse? Trinta...? Trinta e cinco? Daniel era um rapaz com mais ou menos um metro e setenta, cabelos castanhos, penteados para trás, era bem magro, mas não era muito feio, seus olhos castanhos as vezes pareciam ser feito de mel. Mas como Clarice era considerada uma das garotas mais lindas do colégio, era óbvio que jamais namoraria um rapaz mediano como ele. - Cala a sua boca, seu merda! Aparece para mim! – Vociferou a garota, abrindo a porta da última cabine. – Meu Deus, Daniel?! – Exclamou a adolescente ao ver apenas a cabeça do jovem ligada à coluna, havia sangue por toda a cabine, e no chão, o resto que seria o corpo do garoto todo mutilado. A menina virou-se para trás a fim de tentar fugir do banheiro, deixou seu cigarro cair do meio de seus dedos indicador e anelar, porém eu virar-se para a porta de saída, ela pareceu muito longe, então tentou correr, mas suas pernas estavam bambas por causa do Skank. Olhou para trás, e viu que o corpo mutilado dentro da cabine estava se mexendo, como se tivesse espasmos, foi quando notou que os olhos da cabeça abriram, e um sorriso brotou no rosto de Daniel. O Corpo começou a se juntar, a carcaça ficou de pé em poucos segundos, então os braços esticaram até a cabeça arrancada do corpo, pegou-a, e encaixou em seu devido lugar. A cabeça girou para trás a fim de ver Clarice, mas o corpo continuava virado para frente do vaso sanitário dentro da cabine. - Oi, Clarice! – Disse o defunto. - N... Não, por favor, não me machuque! – Respondeu a menina, estava caída no chão, escorada na parede logo abaixo da pia de mármore. - Você sempre me enganou! Não é? Dizia que um dia íamos namorar... – A cabeço voltou a virar, dessa vez se posicionou com a face para a frente do corpo, então o defunto se virou para a garota e deu três passos em sua direção, tornando a falar – Você me dava beijinhos em troca de drogas, mas sabe o que eu realmente queria? - Namorar comigo? – Disse a adolescente de maneira desesperada. - Não. Você é uma putinha, acha que eu não sabia que você deu para quase todos os terceiros anos do colégio? Eu queria transar com você, sua vagabunda! - Ai meu deus, me deixa em paz... Por favor... – Suplicou a menina, já estava chorando. - Agora não podemos mais nos relacionar, estou morto, como pode ver. Virei um servo de um tal de Belial. Sabe o que isso significa, Clarice? - Não... mas não me... – Foi interrompida por um grito do defunto - Cala a sua boca, piranha! – Apesar de estar bravo, a face de Daniel continuava com o sorriso. – Belial veio me visitar assim que vocês partiram. Ele me mostrou como você me enganava, me mostrou a verdade, e disse que se eu quisesse, poderia me vingar de você, bastava o servir... Ah, minha amiguinha... Esta sensação é tão boa... Poder... Clarisse chorava, soluçava, e ficava murmurando coisas que pareciam pedidos de desculpas, tentou fechar os olhos, mas a imagem de Daniel estava penetrada em sua mente, e era ainda pior no escuro. - Sempre quis "comer" você – Disse o rapaz, em tom irônico, e continuou – Mas quem vai acabar a comendo, será sua família... Literalmente! Miahahahaha! – A risada era tão macabra que a garota começou a se mijar nas calças, ficando com a região da calça próxima à sua genital toda molhada. O garoto pegou a menina pelo pescoço, e com uma força sobrenatural, a levantou no ar, em seguida, forçou a garota que chorava sem parar a dar um beijo em sua boca. - Poderia força-la a chupar o meu pênis, mas não seria um castigo para você, não é? Apesar do meu estado, garanto que já colocou sua boca em coisas piores, putinha! – Daniel terminou colocando sua mão esquerda no pescoço da garota, e com a direita, segurou a parte coronária da cabeça dela, começou a puxar para cima, Clarice soltou um grito alto e estridente, mas poucos segundos depois, a sua cabeça desprendeu-se de seu tórax, decapitando-a, e fazendo subir a espinha da garota junto da cabeça, assim como ela havia encontrado Daniel na cabine momentos antes. O garoto ficou parado no banheiro, uma mão segurava o corpo da garota, e a outra a cabeça. Daniel estava todo coberto de sangue, agora seu sorriso estava ainda maior. Atrás dele, um vulto negro surgiu, e uma voz pesada ecoou pelo cômodo. - Muito bem, Daniel! Gosto do seu estilo. Fico feliz em ter você na minha legião de demônios! Hahahaha - Sim, mestre. E agora? – Perguntou o jovem defunto. - Deixe o corpo aí mesmo, logo as cozinheiras vem pegar o corpo para preparar o jantar. - Miahahaha! – Daniel estava rindo, quando de repente como num passe de mágica, desapareceu do banheiro, assim como o vulto. ... Parte Dois – O Jantar Demorou um pouco para que Richard, Denise e Toby conhecessem todos os arredores da mansão. Para o menino, filho do casal, não foi muito legal, pois não vira nenhum cavalo, e as vacas que pastavam, seu pai não deixou que ele chegasse muito perto. Raynolds acabou os deixando na frente da mansão no fim do dia. Denny o convidou para jantar com eles mais tarde, e o mesmo agradeceu e concordou. A família entrou novamente na mansão e encontraram Harold, o mordomo. - Olá Harold, onde está Clarice? - Perguntou a mãe. - Minha dama, vossa filha comeu bastante bolo de chocolate e acabou pedindo para que eu levasse-a para seu quarto, para descansar. Pediu para avisar que quer descansar até o jantar. – Falou o velho desfigurado. - Certo, e nós vamos para os nossos quartos também. – Disse Richard, continuando – Harold, nos leve até os aposentos, por favor. - Claro, meu senhor. – Respondeu o mordomo. Denny ficou desconfiada que algo estava errado, era muito estranho o jeito que Clarice estava agindo, sabia que a filha estava irritada por ter de passar o verão na fazenda, mas não achava que ela reagiria fugindo deles dessa forma. Mesmo assim, seguiu com seu marido e filho para o andar de cima. Ao subir toda a escadaria passaram para o lado esquerdo, onde havia a sala de jantar no andar de baixo, olhando-a lá de cima, notaram que os pilares e os azulejos do chão formavam um desenho, algo parecido com uma estrela com um círculo em volta, a mesa de jantar ficava bem acima desse desenho, cortando de um lado a outro. Passaram para um corredor, no qual possuía várias portas. Eram todos quartos. - Caramba. Alguém queria receber bastante visitas, não? – Disse Richard ao notar mais de vinte portas no extenso corredor. - Sim, sempre fomos muito receptivos, mas com a morte de mi lorde... – Harold estava triste com isso, visivelmente triste. O mordomo levou o casal até um quarto bem grande, suas malas já estavam lá dentro. Passaram antes por um quarto com uma placa de "Não perturbe", Denny bateu na porta, e ninguém respondeu, segundo o mordomo era o quarto em que havia deixado a filha do casal. Toby ficou pela primeira vez na vida em um quarto só para ele durante uma viagem, e isso o animou bastante. Correu para o banheiro e se encantou que nele ao invés de uma ducha, possuía uma banheira quadrada bem grande de hidromassagem. Ligou-a e foi tirando toda sua roupa, estava ansioso para entrar na banheira, nunca havia tomado banho em uma daquelas antes. Quando ficou cheia, jogou um produto que encontrou do lado da banheira, estava escrito "espuma para banho", em seguida, deitou e fechou seus olhos, não demorou muito para o sono o pegar de jeito, cochilou por lá mesmo. Já Richard e Denise estavam brigando no quarto: - Você nem se importa com sua filha, porra! – Gritou Denny - Ah, você acha isso? – Perguntou o Marido. - Sim! Ela gosta tanto de você, que prefere ficar o dia inteiro longe! - Ah não! Não venha falando merda, Denise! Você se acha a pessoa mais inteligente do mundo, mas não passa de uma egocêntrica! – Devolveu o homem. - Eu, egocêntrica?! – Denise deu um tapa no rosto do marido, seus olhos estavam cheios de lágrimas. - Encoste um dedo para me ferir novamente, que você vai ver aonde você vai parar! – Alertou o homem. Continuou – Vai, se arrume que daqui uma hora temos de descer para o jantar. Denise pegou uma roupa e foi para o banheiro, encheu a banheira e entrou, mas não estava se lavando, e Richard conseguia ouvir seu choro, o que cortou seu coração. Ele detestava discutir com a mulher, ainda mais sobre algo que não considerava justo, pois sabia que no final, ele teria de ir pedir desculpas, e assim foi. Entrou no banheiro, e viu a mulher tremendo dentro da banheira, seus olhos estavam vermelhos. - Amor, me desculpe... Eu... Posso não estar sendo um bom pai para Clarice, mas você tem de entender que somos uma equipe... Eu não consigo fazer isso sozinho... - Eu sei... me desculpe também pelo tapa... – Disse a mulher abrindo e estendendo os braços para receber o marido na banheira. O Rosto dele ainda estava marcado em vermelho com os dedos da esposa. Richard tirou sua roupa, e entrou na banheira, os dois começaram a fazer amor, Denise já sabia que quando ela estava demonstrando tristeza e com os olhos vermelhos de chorar despertava um tesão no marido que inspirava um sexo muito gostoso entre os dois. Passaram mais de quarenta minutos dentro da banheira, depois, primeiro Denny saiu, secou-se e se vestiu indo em direção à cama no quarto, então Richard saiu e fez o mesmo roteiro da esposa. Chegou a hora do jantar, os dois saíram do quarto, e notaram que o quarto da garota estava aberto, deduziram que ela já devia estar os esperando na sala de jantar. Bateram no quarto de Toby, que não atendeu, então Richard girou a maçaneta, e abriu a porta, viu que estava transbordando espuma e agua da banheira, notaram o garoto dentro da banheira, parecia desmaiado, correm até a banheira, Denny o sacudiu, então o garoto acordou, estava apenas dormindo. - Meu Deus, Tobias! Não faça mais isso conosco! – Vociferou o pai, continuando – Quase tivemos um ataque no coração achando que estivesse desmaiado, afogado, ou sabe-se lá mais o que! - Credo pai! Só estava dormindo! – Disso o garoto. - Estamos descendo para a sala de jantar, apronte-se e desça também. – Falou a mãe. - Ta bom, mãe! – Disse o garoto, que teve mais um arrepiu. Todos no quarto ouviram um som bem baixinho, para Denny, parecia uma gargalhada. - Richard, você ouviu alguma coisa? – Perguntou a mulher. - Não, minha querida. Vamos descendo. – Ele havia escutado, mas julgou ser algo irrelevante, e conhecendo sua esposa, não quis concordar e preocupa-la. Os pais de Toby saíram do quarto rumo ao jantar, o garoto viu um outro produto que não tinha visto antes, dizia "sal para banho – hidrata a pele". "Não vai fazer mal eu usar um pouco", abriu o pacote e despejou-o na banheira. Uma fumaça começou a sair do produto assim que ele encontrava-se com a agua, de repente, sentiu um calor, e notou que a cada segundo ficava mais quente, até que começou a sentir sua pele queimar, tentou sair da banheira, mas parecia que algo estava segurando-o dentro da mesma, olhou para trás e percebeu um vulto, se arrepiou todo, mas o pior foi ao olhar para baixo, viu que a agua estava ficando com um tom vermelho, era seu sangue saindo do corpo, sua pele estava derretendo, começou a chorar desesperado, e se debateu na banheira como um peixe fora d'agua, só fez com que respingasse a agua ácida em seu rosto, fazendo-o queimar também. Tobias gritava de desespero, mas seus pais já estavam na sala de jantar naquela altura, e não o ouviriam. - Hahahaha – Riu uma voz pela sala – Que banho gotoso, não é Toby? - Quem é você? Não é gostoso, me ajude estou queimando! – Gritou o garoto desesperado. - Pois vou te soltar então. Corra até a mamãe e o papai, garoto! – Sussurrou a voz no ouvido da criança, que em seguida, sentiu seu corpo ser liberado. Toby deu um pulo para fora da banheira, seu corpo do pescoço para baixo estava apenas nos músculos, muitas partes corroídas até o osso, sangue escorria de vasos sanguíneos expostos e/ou derretidos, desesperado, saiu cambaleando pelo quarto, chegou até o corredor e foi em direção à sala de jantar. ... Richard e Denny estavam sentados à grande mesa, nela, Raynolds como prometido também estava sentado, ao lado do mordomo Harold, que também recebera o convite de Denny. Não demorou muito para que uma das cozinheiras entrasse na sala com uma bandeja cheia de um salgado que lembrava torta de carne. Ofereceu ao casal primeiro, ambos pegaram três salgadinhos cada, e começaram a comer, fazendo um sinal de aprovação com o dedo indicador para a cozinheira. - Que coisa gostosa! – Falou Richard. - É uma receita que só elas conhecem, minha dama – Disse o mordomo rindo. - Ah... Ié! I logo oces vaum ver o prato principal! – Disse Raynolds . - Cadê a Clarice? Ela não estava no banheiro? – Perguntou Denny. - Na verdade, minha querida dama, ela é parte do nosso jantar. Acho que vocês vão gostar da surpresa que preparamos com ela! – Falou o mordomo, já com um tom mais grosso de voz, quase que com um tom de raiva. - Que legal! Viu Denny? E você brigando comigo que ela estava nos evitando, quando na verdade está ajudando a fazer nosso jantar! – Falou Richard. Para Denise, isso estava muito estranho, a filha nunca havia botado a mãe em uma panela da cozinha. Seus pensamentos foram interrompidos quando vieram as duas cozinheiras, cada uma segurando uma bandeja tampada. Colocaram-nas em cima da mesa, e se distanciaram, esperando que Denise abrisse uma delas. - Eu abro uma, e você abre a outra, pode ser? – Perguntou Richard. - Pode ser, amor... – Respondeu Denise. Então, o casal abriu ao mesmo tempo as bandejas, Denny vomitou na mesma hora ao ver a cabeça de sua filha toda assada dentro, já Richard se levantou e impulsionou seu corpo para trás, pois a bandeja que ele destampou tinha todo o tórax da filha, torrado. - Carne mal passada, ou bem passada? – Perguntou o mordomo para Denny. Não muito depois, a porta da sala de jantar em direção ao hall de entrada da mansão se abriu, e surgiu o corpo todo ensanguentado e desfigurado de Toby. - Mãe! Pai! Me ajudem! – Gritava o garoto correndo em direção ao pai e a mãe. - Filho, o que fizeram com você! – Não parecia uma pergunta, Denise estava triste, enfurecida, preocupada e enojada. Tudo ao mesmo tempo. - O que fizeram com meu filho!? – Agora sim, parecia uma pergunta, mesmo que aos berros desesperados de uma mãe. - Nós não fizemos nada além do nosso trabalho, minha senhor! – Vociferou o mordomo, ainda sentado em sua cadeira, agora cortando um pedaço do tórax da garota para comer. - Ié memo! Quem mata é o vurto das trevas. – Falou o caipira. - O que? Ai meu Deus... – Denise desmaiou para trás. - Denise! Amor! – Vociferou Richard, tentando acordar a sua mulher. - Paaaai... – Gritou em ultimo suspiro Toby, em seguida, caiu no chão, já morto, quase sem sangue em seu corpo. - Toby! – Gritou o homem em desespero, olhou para as cozinheiras, depois para as bandejas em cima da mesa, em seguida pegou uma faca de cima da mesa, e pulou para cima dos dois homens sentados à mesa, que riam sem parar. Richard durante o pulo, foi jogado por alguma coisa para trás. Sentiu que algo ou alguém estava segurando seu pescoço, ele flutuava encostado à parede da sala. - Ora ora... Richard, um dos meus melhores alvos! – Disse uma voz. - Q...Quem é você? – Perguntou o homem sendo enforcado por uma força invisível. - Eu? Seu fiel companheiro, o ilustríssimo Belial! – Falou o vulto, agora, começava a tomar forma de um homem réptil, possuía escamas, era de tonalidade verde, lembrava um lagarto-humano, ou um homem-cobra. Sua língua bifurcada era fina e comprida, o monstro a jogava para fora e passava no rosto do humano. Continuou falando – Alguns dizem que sou um demônio... outros que sou um E.T. ... Mas a minha raça verdadeira é chamada de reptiliana. – Terminou. - O que você quer? Por que fez isso com a minha família? – Perguntou Richard, lágrimas jorravam de seus olhos, seu rosto estava ficando roxo pela falta de ar. - Eu me alimento do seu medo. Sua energia corpórea. Hahaha! – Revelou o monstro, aliviou um pouco o pescoço do homem, e continuou – Na verdade, eu sou qualquer coisa... Eu sou o que você mais tem medo, sou literalmente o seu pesadelo! Hahahaha! – Terminou com uma gargalhada alta. - Mas por que eu? Minha família?! – Perguntou o homem grudado à parede. - Se preocupa com sua família? – O monstro soltou uma gargalhada bem alta, e continuou – Não me faça rir! Traiu sua esposa com a secretária, depois quando ela ameaçou contar seu caso pra sua mulher, você pagou para um drogado chamado Daniel matar a amante! Muito feito, senhor Richard. Mas eu gosto disso. – Terminou dando uma lambida na bochecha do homem. - Você é um justiceiro, então? Ótimo, me mate! Mas deixe pelo menos Denny ir embora! – Suplicou Richard. - Todos aqui tinham seus pecados para pagar, Richard... Mas não, eu não sou um justiceiro... – O monstro o colocou no chão, e terminou – Eu já falei, sou o seu um ser que se alimenta do medo! E você já me alimentou que chega! – O monstro deu um soco no rosto de Richard com tanta força, que prensou a cabeça do pobre marido infiel contra a parede, fazendo-a estourar, e sair sangue e miolos para todos os lados. - Bravo, meu senhor! Bravo! – Aclamava o mordomo para a criatura, que novamente ia mudando de forma, novamente se transformou em apenas um vulto. - Peguem esta mulher e a amarrem em uma cama. Esta vai receber um tratamento especial. Hahahaha. – Belial terminou com uma gargalhada macabra, e sumiu. ... Parte Final – A Voz da Morte Denise abriu os olhos lentamente, viu que estava deitada em uma cama, por segundos, sentiu-se aliviada por achar que tudo foi um sonho na sala de jantar, mas logo notou que estava amarrada na cama. Virou a cabeça e viu que Harold, as cozinheiras e o caipira estavam dentro da sala, ou pelo menos, o que eles eram de verdade. Harold parecia uma barata-homem gigante, tinha antenas, era marrom e possuía algo em suas costas que pareciam realmente asas de barata. O que mais assustava era aqueles olhos que pareciam duas bolas de tênis pretas na face. Piorou quando boca da criatura abriu-se em um sorriso, mostrando dentes afiados. O Caipira Raynolds parecia um rato gigante, também como o mordomo, com traços humanoide. Seus olhos vermelhos lembravam a visão que Denny tinha do "inferno". O rato possuía dois dentes incisivos centrais enormes, pareciam lâminas de espadas. As cozinheiras eram as piores, Denise nunca poderia ter imaginado algo tão horrendo, pareciam duas aranhas de pé com duas pernas peludas cada uma e dois braços igualmente peludos abertos. Tinham no mínimo vinte olhos em cada face, negros e macabros, duas presas enormes saíam de suas bocas. Denise só sabiam de quem se tratavam por estarem vestindo as mesmas roupas de quando ela os conhecera na versão humana. - Ahahahaha – Riu o vulto, logo em frente à mulher – O seu medo é o mais gostoso de todos. Não posso matar você agora, não pelo menos até sugar tudo o que você tem para me dar! – Terminou. - Por que? O que estão fazendo? – Perguntou Denise chorando, com tom de desespero. - Estou me alimentando. Estes aqui são meus companheiros. Fazemos isso a mais de dez mil anos! Ahahahaha - Revelou a voz, continuando – Eu entro na mente das pessoas, me transformo no que elas tem mais medo, e aí arranco toda sua energia e devoro como se fosse um banquete! Agora me diga, Denise, será que seu maior medo é... – O vulto começou a se transformar em uma pessoa que Denise sabia muito bem quem era, seu pai. – Seu pai...? - Belial subiu na cama, e ficou em cima da mulher, como um homem prestes a transar com sua parceira. - Não! Pai! Não! Por favor, não! – Gritava de desespero, mas nada adiantava para Denny, estava amarrada e estava fadada a ver aquilo que tomara forma de seu pai a tirar a roupa, em seguida tirar as calças da mulher também, e a começar a penetra-la. Denise quando era pequena, foi estuprada por seu pai, criara um trauma muito grande, tanto que ao contar para sua mãe, as duas saíram de casa e nunca mais tiveram contato com o pai estuprador de Denny. Mas a verdade, é que até então, ela tinha pesadelos quase todas as noites envolvendo aquele fatídico estupro de menor. Agora com Belial a penetrando como se fosse seu próprio pai, aliás, para Denny, era seu pai, pois o trauma veio à tona, fazendo-a sentir-se aquela criança indefesa novamente. Por vários minutos teve seu corpo violado pela figura de seu pai, até que ela ficou estática, parou de gritar e também de lutar contra aquilo. Ele resolveu descer da cama, e falou: - Não me olhe com essa cara de cachorro morto. Você traiu Richard com seu professor da academia. Sem falar as rapidinhas com alguns dos seus colegas de trabalho. – Disse o monstro. - Vá se foder, seu merda! – Gritou a mulher, ela ainda estava estática, olhando para o teto, parecia que nada mais a estava incomodando, e isso devia-se ao fato do trauma ter sido tão grande, que a deixou em choque. - Finalmente, não há mais nada para sugar de você. Agora, meus fiéis súditos, podem alimentar-se dela! – Falou o homem, retomando sua forma de vulto. Os monstros humanoides voaram para cima da mulher, e começaram e devorar suas entranhas, ela gritava de dor, mas não mais de medo, realmente, não havia mais medo para sentir, agora era apenas um vazio, um "nada" por já ter perdido a família, dignidade, e esperança. Os bichos escrotos comeram-na por completo sobrando apenas uma pilha da ossos, e sangue esparramados pela cama.